quarta-feira, 29 de junho de 2011

A morte em estado quase vivo

Era a figura da morte que ali estava à minha frente.
Era a degradação do ser humano.
Era o corpo feito trapo, era o olhar suplicante, que sei eu,
talvez contrariado, quem sabe, talvez não.
Era um corpo cambaleante, escanzelado, desideratado, o cabelo em desalinho.
Era o cheiro nauseabundo do vegetar e um corpo sem acção,
 quase a morrer, numa cama, no escuro do silêncio, na solidão, no limiar.
Sabe-se lá, ao certo a dor, a profunda desesperança que roeu,
trocidou este ser, até ali.
Que força foi aquela que cresceu momentaneamente,
naquele corpo e o pôs de pé, a tocar o mundo, a vida?
Talvez o desejo de quase morrer, de se sentir no limiar, na passagem, de sentir a saída
do mundo real, cruel e contrariador de todos os sonhos...mas não morrer de todo
Havia, ainda um fio ténue, muito fino, que a prendia à vida, uma força, uma vontade
arrependida?
De repente, a vida era ainda possível. Eram as nossas vozes a impedi-la de partir,
a puxá-la, a fazê-la existir.
Foi o estarmos lá,o desepero nas nossas vozes, os nossos corações pulsando desordenamente,
o terror quase insuportável que nos sufocava, que lhe deram alento, a esperança de ainda sobreviver?
Só ela o sabe.

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