Quantas foram as vezes que. altas horas da madrugada, tinha que sair em busca de uma enfermeira, para que estancasse o sangue à mãe que talvez pelo cansaço, se soltava do nariz, numa torrente assustadora. Começou a trabalhar ainda estudava. Propôs ao então diretor da escola industrial. abrir o curso comercial para raparigas, em Portalegre, onde nasceu e viveu até casar. Conseguiu, mais doze raparigas e assim abriu o curso comercial feminino em Portalegre. Os meus avós não a conseguiam manter num curso fora da cidade. Gostava de estudar, nunca reprovou e era uma trabalhadora incansável.
Depois casou e outra fase começou, não menos dura, que os tempos não eram fáceis. Em Lisboa viveu momentos de grande aperto e solidão. O meu pai ainda permaneceu em Portalegre e ela a viver em casa de uns tios do meu pai, no Largo do Conde Barão, durante quase um ano. Muitas vezes a ouvi contar: " No princípio queria que houvesse um túnel onde me metesse para ir para o trabalho". O bulício da grande capital era ainda uma surpresa pouco agradável. Valeu-lhe uma tia irmã da mãe, em algumas situações, já depois de eu nascer. Por sorte a sua, vivia duas portas acima da repartição onde trabalhava para o ministério das obras públicas, na rua Ferreira Lapa, muito perto das instalações da Polícia Judiciária. Era a sua confidente e grande apoio moral. Uma boa alma esta minha tia-avó, de quem tenho muitas saudades e a quem estendo esta pequena homenagem. A minha mãe era uma lutadora e posso até dizer, uma sacrificada. Em solteira foi o grande apoio dos pais, pois era a filha mais velha. Ainda a estudar, dava aulas a adultos e o seu primeiro emprego foi na famosa e ainda hoje mundialmente conhecida, fábrica dos tapetes de Portalegre, em funções relacionadas com os desenhos das tapeçarias e de todo o processo de conversão das pinturas, para que os tecelões as pudessem reproduzir por meio dos fios.
Após o meu nascimento mudaram-se para um andar por trás da fonte luminosa, na alameda Afonso Henriques, cuja renda lhes levava o seu ordenado, O meu pai, professor do ensino básico, outro moiro de trabalho, dava aulas à noite e explicações. Assim conseguiam ter uma empregada para tomar conta de mim, porque, naquela época, os jardins de infância eram escassos e caros.Um dia, na segunda semana do Totobola, saiu-lhes o 1º prémio: mil novecentos e tal escudos, precisamente o que lhes estava a faltar para a renda! Foi uma grande alegria e deu-lhes um novo alento.
Além de ser uma belíssima desenhadora, tinha começado por ser datilógrafa e, assim, para ganhar mais algum dinheiro, fazia trabalhos em casa e trabalhou e em ateliers de arquitetura, Enfim, uma vida de trabalho e canseiras. Depois, anos mais tarde, veio a reforma que lhe deixou tempo para tomar conta da casa, cantar num grupo coral, fazer algum teatro, que aliás já tinha feito em solteira e para a mais grata das atividades que foi tomar conta do primeiro neto, por quem tinha o amor incondicional. Já com os netos crescidos, a dedicação maior era ao meu pai, que, adoeceu gravemente. Depois da primeira intervenção cirúrgica, era a minha mãe a sua enfermeira. Abnegadamente dedicou~se inteiramente ao apoio ao meu pai que veio a recuperar completamente, não sem que, ainda durante este período, ela própria adoecesse e viajasse para uma outra dimensão, deixando uma grande dor em todos nós, pela surpresa da gravidade da doença, repentina e que, em seis meses, a tirou das nossas vidas, no dia 9 de outubro de 2003, quatro dias após o seu 68º aniversário.
Sinto hoje, ainda, quase treze anos passados, uma grande saudade e uma revolta que ciclicamente se revela e me conduz a momentos de tristeza e solidão. De minha mãe sentirei sempre a ausência. A sua imagem estará sempre na minha memória e os seus ensinamentos presentes na minha vida diária. Os seus desejos e preocupações transferidos e sentidos por mim, como se esse facto pudesse perpetuar a sua memória e o amor e a gratidão que eternamente terei por ela.
Obrigada querida Mãe, por tudo o que me deste!
M. Dulce Branquinho
Depois casou e outra fase começou, não menos dura, que os tempos não eram fáceis. Em Lisboa viveu momentos de grande aperto e solidão. O meu pai ainda permaneceu em Portalegre e ela a viver em casa de uns tios do meu pai, no Largo do Conde Barão, durante quase um ano. Muitas vezes a ouvi contar: " No princípio queria que houvesse um túnel onde me metesse para ir para o trabalho". O bulício da grande capital era ainda uma surpresa pouco agradável. Valeu-lhe uma tia irmã da mãe, em algumas situações, já depois de eu nascer. Por sorte a sua, vivia duas portas acima da repartição onde trabalhava para o ministério das obras públicas, na rua Ferreira Lapa, muito perto das instalações da Polícia Judiciária. Era a sua confidente e grande apoio moral. Uma boa alma esta minha tia-avó, de quem tenho muitas saudades e a quem estendo esta pequena homenagem. A minha mãe era uma lutadora e posso até dizer, uma sacrificada. Em solteira foi o grande apoio dos pais, pois era a filha mais velha. Ainda a estudar, dava aulas a adultos e o seu primeiro emprego foi na famosa e ainda hoje mundialmente conhecida, fábrica dos tapetes de Portalegre, em funções relacionadas com os desenhos das tapeçarias e de todo o processo de conversão das pinturas, para que os tecelões as pudessem reproduzir por meio dos fios.
Após o meu nascimento mudaram-se para um andar por trás da fonte luminosa, na alameda Afonso Henriques, cuja renda lhes levava o seu ordenado, O meu pai, professor do ensino básico, outro moiro de trabalho, dava aulas à noite e explicações. Assim conseguiam ter uma empregada para tomar conta de mim, porque, naquela época, os jardins de infância eram escassos e caros.Um dia, na segunda semana do Totobola, saiu-lhes o 1º prémio: mil novecentos e tal escudos, precisamente o que lhes estava a faltar para a renda! Foi uma grande alegria e deu-lhes um novo alento.
Além de ser uma belíssima desenhadora, tinha começado por ser datilógrafa e, assim, para ganhar mais algum dinheiro, fazia trabalhos em casa e trabalhou e em ateliers de arquitetura, Enfim, uma vida de trabalho e canseiras. Depois, anos mais tarde, veio a reforma que lhe deixou tempo para tomar conta da casa, cantar num grupo coral, fazer algum teatro, que aliás já tinha feito em solteira e para a mais grata das atividades que foi tomar conta do primeiro neto, por quem tinha o amor incondicional. Já com os netos crescidos, a dedicação maior era ao meu pai, que, adoeceu gravemente. Depois da primeira intervenção cirúrgica, era a minha mãe a sua enfermeira. Abnegadamente dedicou~se inteiramente ao apoio ao meu pai que veio a recuperar completamente, não sem que, ainda durante este período, ela própria adoecesse e viajasse para uma outra dimensão, deixando uma grande dor em todos nós, pela surpresa da gravidade da doença, repentina e que, em seis meses, a tirou das nossas vidas, no dia 9 de outubro de 2003, quatro dias após o seu 68º aniversário.
Sinto hoje, ainda, quase treze anos passados, uma grande saudade e uma revolta que ciclicamente se revela e me conduz a momentos de tristeza e solidão. De minha mãe sentirei sempre a ausência. A sua imagem estará sempre na minha memória e os seus ensinamentos presentes na minha vida diária. Os seus desejos e preocupações transferidos e sentidos por mim, como se esse facto pudesse perpetuar a sua memória e o amor e a gratidão que eternamente terei por ela.
Obrigada querida Mãe, por tudo o que me deste!
M. Dulce Branquinho
2 comentários:
Que magnífica e dramática a história de vida dos teus avós, pais... E da tua,mãe, que dizer? Uma grande mulher, sem dúvida! Emocionou-me o teu relato, ela partiu deste mundo de sofrimento e de alegrias demasiado cedo, mas a sua vida continua em ti e na tua família. Tudo parte e tudo fica, é a natureza deste mundo. Beijos e continua a relembrá-la sempre nos teus escritos.
Dulce!
Gostei imenso que tivesses deste modo prestado uma tão justa homenagem à mamã. Ela é inteiramente merecida!
Deves, no entanto, fazer uma pequena correção no texto:- Após ter concluído o Curso Industrial em Portalegre, pediu ao Diretor da Escola que criasse um Curso Comercial para raparigas - o que foi feito através dela, que se encarregou de arranjar doze colegas para esse efeito, como era exigido pelo Diretor.
Parabéns e beijinhos.
O pai muito amigo..
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