Numa destas sextas feiras de Verão fui ao mercado feira da Póvoa de Sta Iria. Tempo muito agradável agitando uma brisa sob um céu nublado mas de calor moderado. Dei graças por estar assim porque havia tanta coisa boa para comprar e a preços tão convidativos, que simplesmente não resisti. Andei por lá umas boas duas horas. Roupas, sapatos, malas, bijutaria, carpetes, atoalhados... ,vende-se ali de tudo um pouco até os "comes" frescos ou grelhados, em sandes ou pratinhos, peixe , enchidos e fumados, bacalhau, enfim, tudo o que nos faz felizes, sobretudo pelos preços.
Estava já prestes a deixar todas estas oportunidades para trás, quando me deparo com uma banca de "chanatos" a 3,50€. Nem de propósito, uns branquinhos com um laço vinham mesmo a calhar . Peguei nuns para ver o número e logo cheia de prontidão e solicitude, a cigana se aproximou para me ajudar na procura do par, no meio daquele amontoado de chinelos de todas as cores e feitios. Ali estivemos até dar com o par. Experimentei-os e não é que me ficavam a matar? Com isto tudo seria já próximo da hora do almoço e o sol resolveu brindar-nos com os seus sorridentes e quentes raios, pelo que comecei a transpirar, cheia de calor. De repente ouço uma voz do outro lado da banca:
- Olhe, não quer uma talhada de melancia? Era o marido da cigana que, de faca em punho cortava talhadas de melancia e as distribuía aos dois filhos pequenos. Os gaiatos comiam-na avidamente e o sumo escorria-lhes pelo queixo, indo alojar-se nas T-shirts da moda. Tudo isto me pareceu surreal e não respondi logo, tal era a surpresa. Voltou então a repetir: - Quer uma talhada? É muito doce. Regressei à realidade sempre a pensar : -Isto não me está a acontecer, isto não é real. Respondi então que não, embora melancia fosse a minha fruta preferida e agradeci a oferta. Voltou à carga:- Vá coma, é muito boa. Dei então comigo a aceitar.
Era de facto muito doce e sumarenta e, para dizer a verdade, soube-me pela vida.- Mas então o que faço às cascas? perguntei aflita. - Deite-as para baixo da banca que eu depois apanho-as. E lá estava eu toda lambuzada e a cuspir as pevides para o chão, sabia lá eu o que lhes fazer! Deu-me então um guardanapo de papel. Limpei a boca, paguei os "chanatos", agradeci e regressei a casa. No caminho parecia-me que nada disto tinha acontecido. e pensei: Olha, os ciganos também sabem ser doces e ri-me de mim própria, que coisa tão boa!
Maria Dulce Branquinho