sexta-feira, 24 de julho de 2015

Eu, o cigano e uma talhada de melancia



Numa destas sextas feiras de Verão fui ao mercado feira da Póvoa de Sta Iria. Tempo muito agradável agitando uma brisa sob um céu nublado mas de calor moderado. Dei graças por estar assim porque havia tanta coisa boa para comprar e a preços tão convidativos, que simplesmente não resisti. Andei por lá umas boas duas horas. Roupas, sapatos, malas, bijutaria, carpetes, atoalhados... ,vende-se ali de tudo um pouco até os "comes" frescos ou grelhados, em sandes ou pratinhos, peixe , enchidos e fumados, bacalhau, enfim, tudo o que nos faz felizes, sobretudo pelos preços. 
Estava já prestes a deixar todas estas oportunidades para trás, quando me deparo com uma banca de "chanatos" a 3,50€. Nem de propósito, uns branquinhos com um laço vinham mesmo a calhar . Peguei nuns para ver o número e logo cheia de prontidão e solicitude, a cigana se aproximou para me ajudar na procura do par, no meio daquele amontoado de chinelos de todas as cores e feitios. Ali estivemos até dar com o par. Experimentei-os e não é que me ficavam a matar? Com isto tudo seria já próximo da hora do almoço e o sol resolveu brindar-nos com os seus sorridentes e quentes raios, pelo que comecei a transpirar, cheia de calor. De repente ouço uma voz do outro lado da banca:
- Olhe, não quer uma talhada de melancia? Era o marido da cigana que, de faca em punho cortava talhadas de melancia e as distribuía aos dois filhos pequenos. Os gaiatos comiam-na avidamente e o sumo escorria-lhes pelo queixo, indo alojar-se nas T-shirts da moda. Tudo isto me pareceu surreal e não  respondi logo, tal era a surpresa. Voltou então a repetir: - Quer uma talhada? É muito doce. Regressei à realidade sempre a pensar : -Isto não me está a acontecer, isto não é real. Respondi então que  não, embora melancia fosse a minha fruta preferida e agradeci a oferta. Voltou à carga:- Vá coma, é muito boa. Dei então comigo a aceitar. 
Era de facto muito doce e sumarenta e, para dizer a verdade, soube-me pela vida.- Mas então o que faço às cascas? perguntei aflita. - Deite-as para baixo da banca que eu depois apanho-as. E lá estava eu toda lambuzada e a cuspir as pevides para o chão, sabia lá eu o que lhes fazer! Deu-me então um guardanapo de papel. Limpei a boca, paguei os "chanatos", agradeci e regressei a casa. No caminho parecia-me que nada disto tinha acontecido. e pensei: Olha, os ciganos também sabem ser doces e ri-me de mim própria, que coisa tão boa! 

Maria Dulce Branquinho

sábado, 18 de julho de 2015

On the wings of dream

On the Wings of a Dream ©2008 Caryl Bryer Fallert
On the wings of a dream by Caryl Bryer Fallert 

Lost on the wings
of my dreams
I fly away 
from this poor
earthly life.
I dream and enjoy
the pleasures of imagination.
I fancy there is
no war,
no illnesses,
or hatred.
I wish there were 
no children suffering,
no crime
or poverty
on the face of this planet.
But then when I wake up
my heart starts bleeding
for everything I dreamt
is nothing
but 
a fearful cold
Lie!

Maria Dulce Branquinho


sexta-feira, 17 de julho de 2015

From the balcony of my bedroom



    Original Art Oil/Acrylic Painting,

         by: Linda Flowers (United States)



From the balcony of my bedroom
I can guess the sea beyond
the sad concrete jungle.
I cannot see it, though I feel it's there, 
deep in my brain, in the botton of my soul!
I want to feel it, imagine the waves
shattering the rocks of a cliff,
bathing the beaches,
refreshing our minds.

From the balcony of my bedroom
my eyes reach the skyline and
I can feel the sea is there,
wating for my thoughts,
eager to please me in my sadness
ready to listen to my sorrows,
to wash my tears away!
Maria Dulce Branquinho

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Embaixadora do AMOR



A vida, essa madrasta, ceifou-me
uma amizade longa e de exemplo.
Quando o corpo cede à doença
de um século de progressos em
admiráveis conquistas e guerras
tão vis quanto o ódio pode construir,
sinto chamas, sinto dor!

É desses progressos amaldiçoados
que a minha revolta agora fala.
De alguém pela paz, pela ajuda
num desinteresse apenas movido
pelo amor e pela amizade.
Alguém que ninguém pode esquecer!

Foi agora desferido mais um rude golpe
no meu peito,na minha razão.
Tão cruelmente irónica a nossa existência.
Era ela, a minha amiga, de uma dedicação
a todos os frágeis que não pôde  ser retribuída,
A quem ninguém pôde valer!

Apenas fica a lembrança dolorosa, ainda quente .
Estás onde estiveres, mais tranquila,
mais em paz.
És e serás para sempre recordada
a grande embaixadora do AMOR!

Poema dedicado à minha querida amiga Maria Fernanda Agulheiro


sábado, 11 de julho de 2015

Heróica Natureza


Oh heróica natureza de belas paisagens
assassinadas,
que a tantas feridas resistes!
Sejam as fúrias dos deuses, as mãos 
da estúpida ganância do Homem
ou a  tua própria revolta
 contra todos os desmandes.
Línguas de fogo,
venenos em águas claras, 
restos do consumo incontrolado,
roubos ao espaço 
de vida de outros seres,
para glória dos (des)humanos.
Resistes  ainda assim estoicamente
empenhada em prolongar
tuas fontes de vida imaculadas.
Mas não, o lucro é cego pela fome 
da riqueza e,
usando-te em ignorância,
se ilude com o progresso que corre
em direção ao seu doloroso FIM.

Mª Dulce Branquinho